Retalhos de memórias alinhavados entre lãs, linhas, notas, telas e lembranças.

Inajá Martins de Almeida

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"Manter um diário ou escrever, as próprias memórias deveria ser obrigação “imposta pelo estado”: o material acumulado após três ou quatro gerações teria valor inestimável. Resolveria muitos problemas psicológicos e históricos que afligem a humanidade. Não existe memória, embora escritas por personagens insignificantes, que não apresentem valores sociais e pitorescos de primeira ordem”.

(Tomasi di Lampedusa - Os Contos)

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domingo, 25 de maio de 2008

O TECER DA LÃ... O DECLINAR DA LINHA

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Entre lãs e linhas nasci:
Minha mãe tecia com lãs.
Meu pai escrevia nas linhas

Acostumei-me às lãs,
Tanto quanto às linhas.

Numas tecia,
Noutras escrevia.

Enquanto nas lãs tecia,
E trabalhos produzia,

Nas linhas, lia
E aprendia.

Tornei-me, assim, tecelã
De lãs e de linhas.

Ora há, em que a lã
Direciona minhas mãos.

Outras, em que a linha,
Direciona meus pensamentos.

Jamais me canso das lãs,
Jamais me aparto das linhas.

Minha mãe já não tece as lãs,
Meu pai ainda escreve nas linhas.

Eu, contudo, continuo
Tecendo lãs e declinando linhas.
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Poema extraído do livro "ENTRE LÃS E LINHAS" de Inajá Martins de Almeida

Um comentário:

Tecelã disse...

olá,
também ando tecendo palavras.
Bonito texto.
Abraços.