Retalhos de memórias alinhavados entre lãs, linhas, notas, telas e lembranças.

Inajá Martins de Almeida

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"Manter um diário ou escrever, as próprias memórias deveria ser obrigação “imposta pelo estado”: o material acumulado após três ou quatro gerações teria valor inestimável. Resolveria muitos problemas psicológicos e históricos que afligem a humanidade. Não existe memória, embora escritas por personagens insignificantes, que não apresentem valores sociais e pitorescos de primeira ordem”.

(Tomasi di Lampedusa - Os Contos)

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domingo, 25 de maio de 2008

O FIO DA MEADA


(Inajá Martins de Almeida)
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O fio da meada de lã peguei,
E a tecer comecei.

O tempo solto corria,
Nas mãos o trabalho crescia;
Parar, já não podia.

As mãos trabalhavam;
Célere, o pensamento corria;
ultrapassava fronteiras.

Enquanto a lã, as mãos teciam,
A linha, os pensamentos envolviam.

Eis que, tomadas de sobressalto,
Pararam as mãos de tecer
Com lã, e as palavras, na linha,
Começaram a nascer.

Mesclando imagem da lã,
A linha logo se enchia.

Aí artesã poeta virou,
A meada de lã largou,
A palavra na linha garrou.

Contudo, da lã, o verbo não distanciou
E o fio da meada, agora, está na linha.
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Manhã fria de setembro 2009, enquanto Inajá tece a toalha que irá ornamentar a mesinha da sala de estar de sua nora, Lilica pede carinho, sem se dar conta de que o olhar atento do fotógrafo Elvio A.Arruda, registra a cena. É o momento em que a artesã larga a lã e na linha coloca sua impressão que ficará registrada no tempo.
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Poema extraído do livro "ENTRE LÃS E LINHAS" de Inajá Martins de Almeida

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