Retalhos de memórias alinhavados entre lãs, linhas, notas, telas e lembranças.

Inajá Martins de Almeida

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"Manter um diário ou escrever, as próprias memórias deveria ser obrigação “imposta pelo estado”: o material acumulado após três ou quatro gerações teria valor inestimável. Resolveria muitos problemas psicológicos e históricos que afligem a humanidade. Não existe memória, embora escritas por personagens insignificantes, que não apresentem valores sociais e pitorescos de primeira ordem”.

(Tomasi di Lampedusa - Os Contos)

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domingo, 25 de maio de 2008

ARTESÃ DA LÃ E DA LINHA


(Inajá Martins de Almeida)


Não há como negar:
Artesã sou...
Jamais deixarei de ser.

Com as mãos trabalho,
Tecendo, ponto a ponto,
Agasalhos coloridos.

Desde pequenina
Acostumada fôra
A estar no meio deles.

Da leitura, também,
Artesã sou:

Jamais esse prazer, abandonarei.
Mais não fôra artesã
Da palavra, no papel
Transformo linha em texto.

Entre linhas de lã,
Ponto e ponto mesclo.

Entre linhas de papel,
Canto e conto declino.

Já não sei mais
Se sou artesã de lã,
Ou artesã de linha

Pois, se
com a lã aqueço um corpo frio,
com a linha alimento uma alma contrita.

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Inajá, a mãe e o irmão em São Paulo 1956 - cena registrada pela câmera do pai - já demonstra o prazer das linhas, quando volta da escola, numa manhã fria e cinzenta da cidade da garoa.
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Os anos céleres passarão, agora em setembro de 2009, Elvio registra o momento em que, na cidade de São Carlos, o frio intenso, Inajá tece a lã e registra na linha, mensagens que o tempo não irá apagar. Belas lembranças!
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Poema extraído do livro "ENTRE LÃS E LINHAS" de Inajá Martins de Almeida

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